A estrutura de roteiro aqui apresentada pode ser desenvolvida para um comercial de carro novo ou um filme.
A ideia é o conceito central, contudo, há de pôr no papel essa ideia.
Daí como começar a escrever o roteiro?
Não importa o que escrever, contudo, é a essência da escrita de roteiros que deve permanecer.
Neste post, vamos apresentar duas maneiras diferentes de tratar a escrita de um roteiro:
- a estrutura de três atos, e
- a estrutura de cinco atos.
Ambas as escritas usam os mesmos conceitos e ideias gerais.
A estrutura de Três Atos
A escrita de Três Atos já está estabelecida, alguns dizem até em escrita tradicional.
Independente se o roteiro for uma comédia romântica ou um comercial para um novo refrigerante, essa estrutura funciona.
A estrutura de Três Atos consiste em uma configuração, um confronto e a resolução.
Pois bem.
Ato Um: A Configuração
Aqui se dá o início da história, ou seja, o ponto de partida.
Nesse sentido, o Ato Um é para estabelecer personagens e o mundo em que eles vivem.
É o “la raison de l’histoire”, o Ato Um é o que vai atrair as pessoas e fazê-las querer continuar lendo.
Características do Ato Um:
- não deve ser confuso, rebuscado ou muito longo.
Na verdade, é no Ato Um que deve ser respondidas às seguintes perguntas:
- Onde estamos?
- Quando estamos?
- Quais são os riscos?
- Quem são os personagens?
- O que podemos esperar do resto do filme?
Ato Dois: Confronto
Na verdade, é no Ato Dois que ocorre a maior parte da ação.
O Ato Dois trata da essência da história.
É nesse momento em que se começa a introduzir a questão principal que direta ou indiretamente vai afetar os personagens.
É no Ato Dois que vai irromper o dilema e como ele será desenvolvido.
Normalmente, o confronto apresenta uma ação crescente que atingirá o auge, e o que vai acontecer com os personagens, isto é, como será a narrativa em si.
É no Ato Dois que algumas perguntas serão respondidas:
- Quais são os objetivos dos personagens?
- O que está impulsionando os personagens para frente?
- Qual é o “leitmotiv”?
Em literatura usa-se o termo de origem alemã, leitmotiv, que significa “motivo condutor” ou “motivo principal”.
Trata-se de uma técnica usada em diversas áreas, como a música, o cinema e a literatura.
- Quais são os obstáculos que os personagens devem enfrentar?
Desse modo, os personagens devem ser complexos e, sobretudo, apresentar, pelo menos, três níveis de conflitos – emocional, pessoal e social.
Ato Três: Resolução
É no Ato Três que a história se encerra.
Geralmente, esse é o clímax da ação. É neste ponto que se fecha a trama, é o momento em que as pontas soltas são amarradas.
De maneira que o Ato Três deve responder às seguintes perguntas:
- Os personagens estão em um momento de tristeza, desespero, ansiedade, confusão ou paralisia?
- Como eles estão reagindo a isso?
- Houve alguma mudança em relação a esse estado?
- Como eles vão se recuperar disso e atingir seu objetivo?
- E, finalmente, o final é esperançoso? Deprimente? Um suspense?
A estrutura de Cinco Atos
A estrutura de Cinco Atos é, na verdade, uma extensão da estrutura de Três Atos.
É seguido o mesmo conceito central, contudo, se o autor quiser, pode acrescentar e dar mais profundidade à história.
Há alguns escritores que recorrem à técnica de Três Atos para assim elaborar o esboço e, em seguida, desenvolve o roteiro a partir da estrutura de Cinco Atos.
Na estrutura de Cinco Atos, são acrescidas duas fases. Ao todo serão elas:
Ato Um: Configuração
Aqui a configuração, na estrutura de Cinco Atos é a mesma.
O que muda é a criação do cenário, e o confronto pode iniciar mais rapidamente.
Ato Dois: Confronto
Não há mudança. O confronto segue a mesma linha já estabelecida na configuração de Três Atos.
Ato Três: Clímax
O clímax é o momento de maior tensão e emoção em qualquer narrativa, seja ela romance, teatro e cinema.
Ela ocorre quando a ação atinge seu ponto crítico e torna o desfecho inevitável.
O clímax é o penúltimo elemento do enredo, no qual há um conjunto de acontecimentos que dão sequência a uma história, como exposição (introdução), complicação (desenvolvimento), clímax e desfecho (conclusão).
O clímax marca o ponto de virada da sua história.
O desfecho é a parte final da narrativa, quando o conflito é solucionado e há revelações e esclarecimentos.
Ato Quatro: Ação de Queda
Bastante semelhante à estrutura de Três Atos, a história deve ser resolvida aqui e tudo deve ser encerrado.
O termo “queda”, no Ato Quatro, significa uma relação ao clímax.
Isso porque este ato, por definição, é a movimentação descendente que vai se inclinar para a queda, ou seja, a resolução do roteiro.
Ato Cinco: Resolução
Em seguida ao clímax e à queda, chega o desfecho, que é a parte final da narrativa.
É o momento em que o conflito é solucionado e há revelações e esclarecimentos.
O desfecho é a parte final de uma narrativa.
Geralmente, é neste momento em que o roteiro deve apresentar a solução do conflito gerado pelas ações dos personagens na narrativa.
Na maioria dos roteiros, este é o momento em que:
- há esclarecimentos e revelações,
- há opções para um seguimento, para uma segunda parte, bem como,
- surge o momento em que será o expectador é que vai concluir a história. (e saiba que isso é muito usado e perfeitamente possível.)
O roteiro pode sim deixar lacunas para que o expectador possa interagir, como também, deixar que o expectador tire suas próprias conclusões.
Por isso que o desfecho pode ser classificado como positivo, negativo, conclusivo ou surpreendente.
Novamente, a resolução ainda é basicamente a mesma da estrutura de Três Atos: a história deve ser de alguma maneira encerrada.
Importante:
Para entender melhor o Ato Cinco, a Resolução, há de se lançar mão de uma palavra-chave que é “Catarse”.
E por que, numa obra de ficção, seria tão importante que o expectador atinja de forma talvez sutil ou aguçada, talvez vibrante e orgânica, a catarse?
Perguntando de outra forma: como o roteirista, ciente das expectativas do leitor, pode propositadamente usar a catarse?
Essa questão deve partir da real intenção do roteirista ao se propor em escrever um roteiro.
De acordo com “A poética”, de Aristóteles, provavelmente registrada entre os anos 335 a.C., deve-se estabelecer uma resolução, isto é a “catarse”.
A palavra catarse vem do grego kátharsis, que significa “purificação”.
Por que a importância da “Poética” de Aristóteles para textos narrativos, de ficção ou não-ficção, adaptados para o cinema, bem como os roteiros originais, escritos exclusivamente para o cinema?
É por Aristóteles escrever, partindo do pressuposto de que toda arte se trata de uma imitação da vida real, contudo, essa imitação não é fiel à realidade e, sim, uma representação, uma suposição melhorada (tragédia) ou piorada/degradada (comédia).
Para o filósofo macedônio, a catarse é a expurgação, a purificação das almas.
Essa purificação ocorre, quando o público se identifica com os personagens a tal ponto que a tragédia ou drama expostos na narrativa liberaram suas emoções.
Aristóteles mostra que a catarse é um mecanismo essencial e gratificante ao expectador.
No momento em que o expectador se identifica e sente fortemente todo o sofrimento de um personagem, ou seja, a catarse, ele passa a ser uma pessoa melhor.
Para Aristóteles, o drama ideal deve ter como finalidade a catarse, que é a purificação do espírito (emoções) do espectador por meio do espetáculo, que nos nossos dias é também considerado o audiovisual.
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Como o assunto é roteiro, vamos deixar aqui uma pequena, pequeníssima lista com os 10 roteiros premiados do cinema. Confira!
O WGA – Writers Guild of America West (WGAW), um sindicato que representa os milhares de criadores que escrevem séries com roteiro, recursos, programas de notícias e outros conteúdos, se unem para organizar o prêmio de melhores roteiros para o cinema
1. Casablanca – Julius J. & Philip G. Epstein e Howard Koch
Baseado na peça “Everybody Comes to Rick’s”, de Murray Burnett e Joan Alison.
O filme de 1942 se passa durante a 2ª Guerra Mundial.
Ganhou 2 Oscars: de Melhor Filme e de Melhor Roteiro Adaptado de 1944.
2. O Poderoso Chefão – “The Godfather” – Mario Puzo e Francis Ford Coppola
Baseada no livro de Mario Puzo, estreou em 1972.
Ganhou 2 Oscars de Melhor Filme e de Melhor Roteiro Adaptado.
Além de outros prêmios, o roteiro do filme também foi elogiado nos prêmios Globo de Ouro e WGA Awards.
3. Chinatown – Robert Towne
O filme de 1974, além da originalidade do roteiro ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original, bem como o Globo de Ouro e o Prêmio Edgar, BAFTA e WGA Awards desta categoria.
4. Cidadão Kane – “Citizen kane” – Herman Mankiewicz e Orson Welles
Considerado como uma obra-prima, o filme, de 1941 ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original
5. A Malvada – “All about Eve” – Joseph L. Mankiewicz
Baseado no conto de Mary Orr, de “The Wisdom of Eve”, publicado na edição de maio de 1946 da Cosmopolitan, foi a base do filme “All About Eve”, de 1950 e, portanto, ganhou o Oscar em 1950.
6. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa – “Annie Hall” – Woody Allen e Marshall Brickman
O longa, além de ganhar os Oscars de Melhor Filme, Melhor Roteiro Original, foi vencedor de mais de 15 prêmios, e o BAFTA de Melhor Roteiro.
7. Crepúsculo dos Deuses – “Sunset Blvd” – Charles Brackett & Billy Wilder e D.M. Marshman, Jr.
Em 1950, foi o vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original, Globo de Ouro de Melhor Filme e WGA de Melhor Roteiro de Drama.
Duas curiosidades:
1. O título usado aqui no Brasil é Crepúsculo dos Deuses e traduzido: Twilight of the Gods.
Mas, o título original, “Sunset Blvd` é de uma avenida homônima que atravessa as cidades de Los Angeles e Beverly Hills, na Califórnia, Estados Unidos.
2. Os roteiros originais foram impressos com o título A Can of Beans (Uma lata de feijão), porque os escritores estavam com medo de que o estúdio não apoiasse um roteiro, pois podia o roteiro parecer como negativo sobre negócio. Suas preocupações podem ter sido justificadas. Quando o filme saiu, o chefe da MGM, Louis B. Mayer, teria gritado com Wilder: “Seu bastardo! Você desonrou a indústria que o fez e o alimentou! Você deveria ser alcatroado e emplumado e expulso de Hollywood!” Revista Variety, de julho de 1993. (https://www.wga.org)
8. Rede de Intrigas – “Network” – Paddy Chayefsky
Lançado em 1976, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original, bem como WGA Awards e Globo de Ouro na mesma categoria.
9. Quanto Mais Quente Melhor – “Some Like It Hot”- Billy Wilder e I.A.L. Diamond
Baseado no filme alemão “Fanfare of Love” de Robert Thoeren e M. Logan, a obra de 1959 foi vencedora do WGA Awards de Melhor Roteiro de Comédia norte-Americano.
10. O Poderoso Chefão II – “The Godfather II” – Francis Ford Coppola e Mario Puzo
Como o anterior, a sequência também foi um sucesso e o filme vencedor do Oscar de Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado.
Conclusão
Se você é um verdadeiro cinéfilo, gosta e curte cinema ou se você tem talento e quer escrever roteiros, depois de ler este blog, você vai assistir a um filme com muito mais conhecimento da técnica cinematográfica e, no segundo caso, você vai se sentir preparado para começar a escrever seu roteiro.
Por isso, continue com a gente!