“Roteiro é uma história contada em imagens, diálogos e descrição, localizada no contexto da estrutura dramática.”
(Syd Field, roteirista e consultor norte-americano)
Como forma de escrita, o roteiro é a criação de qualquer obra audiovisual.
Contudo, há de ser esclarecido que o roteiro não se restringe a uma simples obra literária.
Há certa descrença nesta forma de escrita, por se tratar de um texto cuja existência termina quando o roteiro é convertido em um produto audiovisual.
Mas, não é bem assim.
Como se sabe, o roteiro é o começo, é a origem da obra cinematográfica.
Portanto, pode-se dizer quer roteiro é um texto narrativo, estruturado em cenas ou sequencias numeradas, que contemplam:
- a descrição das personagens, e suas ações e diálogos,
- a descrição dos cenários, as imagens e sons.
Ou seja, elementos necessários à criação de uma um romance, uma aventura, uma comédia, enfim, a arte de contar história.
O roteiro entrou para o mundo cinematográfico, na primeira década do cinema americano.
O roteiro nasce como uma tentativa (que deu certo) de prever a sequência narrativa de um filme, de maneira a descrever cada cena, cada enquadramento, como também ser um instrumento de auxílio de muitos estúdios a contornar problemas técnicos e artísticos.
O roteiro é, na verdade, uma escrita feita para atender uma obra audiovisual.
Assim sendo, o roteiro deve contar uma história para ser descrita por imagens.
O roteiro vai ser o norteador, o guia que vai auxiliar a execução de uma produção.
É pelo roteiro que o estúdio encontra as informações pertinentes ao filme, a fim de que possa viabilizar ou não a produção e delimitar cada processo.
Nesse sentido, é a partir de um roteiro que a produção poderá mensurar o orçamento de um filme, isso porque é no roteiro que estão contidas as informações detalhadas que irão influenciar os custos de uma produção, por exemplo, é pelo roteiro que se estabelece o número de cenas, é pelo roteiro que se especifica o figurino, as tomadas externas e assim por diante.
O roteiro cinematográfico surgiu no final do século XIX e início do século XX.
O primeiro roteiro escrito para o cinema foi o do jornalista Gardner Sullivan, em 1911.
E especialistas dizem que Sullivan foi convidado a escrever 200 roteiros, num período de três anos.
Desde então, o roteiro passou a ser uma das primeiras divisões de trabalho no cinema.
Dependendo da complexidade de algumas produções, os roteiros podem ser mais precisos, com descrições de cenários detalhadas, bem como a movimentação do elenco, como por exemplo em “Anna Karenina”, com Vivien Leigh, de 1948.
De acordo com Béla Balázs,
“o roteiro do filme nasceu, quando o filme já havia se desenvolvido em uma nova arte independente e já não era possível improvisar seus novos efeitos visuais sutis na frente da câmera; estes tinham que ser planejados cuidadosamente com antecedência.”
O que faz um roteirista?
A base do trabalho de roteirista é a criação e desenvolvimento de roteiros para produções audiovisuais.
Nesse processo de trabalho estão incluídas várias etapas, a começar pela ideia inicial, que é o gérmen a elaboração do roteiro propriamente dito.
Partindo desse pressuposto, o roteirista passa então a ler, a observar, de modo que encontre, em diferentes fontes de pesquisas, recursos para desenvolver sua ideia.
Há alguns especialistas em cinema que chama essa primeira fase de “inspiração”.
Contudo, o que importa ao roteirista é encontrar material que proporcione uma história cativante e original e, sobretudo, uma história capaz de ser adaptada para o meio audiovisual.
O processo de criação
A ideia deve crescer, tomar forma e, na melhor das hipóteses, se transformar numa boa bilheteria.
O primeiro que muitos consideram o maior fracasso é “A Ilha da Garganta Cortada” (1995).
Outro filme “Cavaleiro solitário”, de 2013, é apontado como segundo maior fracasso da Disney.
Com um prejuízo estimado de até US$ 120 milhões, o longa teve um orçamento de US$ 250 milhões, além dos US$ 175 milhões investidos em marketing.
Até mesmo ter uma das maiores estrelas de Hollywood, Johnny Depp, como o grande protagonista, não bastou para o sucesso do filme.
Contudo, isso não bastou para o sucesso.
Outros clássicos, como “Era Uma Vez na América” (1984), embora tenha sido aplaudido de pé no festival de Cannes, o filme teve um orçamento de US $ 30 milhões e arrecadou um pouco mais de US $ 5,3 milhões.
E “Um sonho de liberdade” (1994) que hoje é considerado uma obra-prima.
É claro que se deve levar em conta vários fatores para o fracasso de um filme, como
- o custo de produção e comercialização é maior que a receita arrecadada após o lançamento,
- o filme ser mesmo ruim,
- a escolha de estreia não ser boa, ou seja, junto com outros lançamentos já aguardados pelo público,
- falha no marketing,
- o streaming permite que o público assista aos filmes em casa logo após o lançamento nos cinemas,
- aumento dos preços dos ingressos,
- escolha equívoca do elenco, e
- roteiro.
Nesse sentido, pode-se considerar um bom roteiro como parte importante no processo criativo.
Para tanto, é preciso criar personagens, definir cenário e construir a trama.
Além de levar em conta também elementos-chave, como,
- a profundidade do conflito principal,
- a criação de personagens verossímeis e bem elaborados,
- o ritmo da narrativa.
Por isso ser imprescindível o esboço inicial, a fim de organizar as ideias.
Na composição literária, por exemplo, grandes escritores, como Dostoiéviski, no momento de criação d’Os irmãos Karamzóv, fez um esboço dos personagens principais dando-lhes as características, aspectos de personalidade, profissão, posicionando-os no tempo e espaço da narrativa.
De modo que, ao dar início ao que se denomina pela crítica literária com o obra-prima, o autor russo já tinha um esboço completo, tanto da trama quantos dos personagens.
É por isso que é tão-somente após terminada a fase de planejamento que o roteirista começa a escrever o roteiro propriamente dito.
Vale dizer que todo roteiro, em seu formato, deve seguir a padrões específicos, como,
- elementos como cabeçalhos,
- descrições,
- diálogos, e
- indicações de cena.
E como toda escrita é reescrita, o que mudar e como mudar faz parte da construção de um roteiro.
É bastante comum nessa fase da escrita roteirista fazer revisões, correções e reescrita continuamente.
Além de também trabalhar em colaboração com outros roteiristas.
Como foi o caso Jean Claude Carrière e Luis Buñuel que formaram uma dupla em criações primorosas do cinema.
Antes já tinha escrito, “O diário de uma Camareira”, (1964), depois, “A bela da tarde” (1969), filme baseado no romance homônimo de Joseph Kessel, publicado em 1928.
Além de outras inesquecíveis produções, como
“A Via Láctea” (ou O estranho caminho de São Tiago), (1969)
“O discreto charme da burguesia”, (1972)
“Esse obscuro objeto do desejo”, (1977)
Conhecimento como técnica de roteiro
Embora a habilidade com a escrita seja essencial, ao roteirista, é igualmente importante o conhecimento técnico em
- estruturação da narrativa,
- formatação de roteiros, e
- domínio das técnicas específicas de escrita, tendo como finalidade o audiovisual.
Principais características de um roteiro:
- é a base, o suporte para a realização de um filme,
- deve ter em sua apresentação uma estrutura organizada em cenas ou sequências, às vezes numeradas, com indicações sobre o tipo de cena (interna ou externa),
- o tempo e espaço em que a narrativa se passa,
- descrição de locais e de personagens, quando são apresentados pela primeira vez,
- deve, assim, apresentar os elementos básicos da narrativa, como fatos, personagens, tempo e lugar,
- o recurso usado na linguagem deve ser o discurso direto, bem como o emprego de uma linguagem adequada ao desenvolvimento das ações, às personagens e ao contexto.
Vale a pena destacar que a escrita do roteiro só deve ser iniciada somente depois que o autor já tiver estabelecido toda a estrutura da história, bem como já ter preparado a síntese de cada cena e personagem.
Na verdade, a escrita do roteiro deve ser o passo que antecede toda a elaboração da obra.
Desse modo, é possível fazer a revisão e dar início à escrita do script.
Como surge a ideia para um roteiro?
A ideia é o principio de qualquer roteiro. A ideia é o início do processo.
Isso posto, a criatividade do autor vai colaborar nesse aspecto. Um bom roteirista pode contar com a ideia, é claro, mas, deve incrementar seu engenho criativo à espontaneidade.
Caso contrário, sua produção criativa poderá ser limitada.
Se a vontade é a de escrever um roteiro, então não é preciso “esperar” a ideia chegar. É preciso buscá-la, criar condições para que a ideia surja.
As ideias não surgem simplesmente do nada, existe sempre uma fonte de inspiração.
Segundo o roteirista Lewis Herman, as ideias podem ser originadas de seis fontes.
Isto é, as ideias surgem de diferentes fontes.
Desse modo, o roteirista criou um quadro que o denominou como: Quadro das Ideias.
Quadro de ideias de Herman:
1. Ideia selecionada
É a ideia que surge a partir da memória pessoal do roteirista,
2. Ideia lida
É a ideia que surge mediante conhecimentos prévios e de leituras produzidas pelo roteirista.
3. Ideia verbalizada
É a ideia que surge no momento em que o roteirista consegue verbalizar a ideia, ou seja, contar a ideia para alguém.
4. Ideia transformada
Dependo da leitura que o roteirista fez, pode surgir a ideia depois de ler um livro, um romance, uma obra de ficção ou não-ficção.
Mas, não se trata aqui de cópia ou plágio. A leitura vai ser um instrumento de criação.
5. Ideia solicitada
Quando um produtor “encomenda” “solicita” uma ideia. A partir daí o roteirista vai criar um roteiro a partir da proposta feita.
6. Ideia procurada
Aqui a ideia parte de seu desejo, de seu interesse. O roteirista quer produzir algo.
Assim, ele vai estudar e pesquisar um tema que seja passível de realização.
Conclusão
Ao ter o roteiro como principal propósito da uma criação audiovisual, percebe-se a importância da definição de objetivos e a sequência de todas as etapas.
Por isso que este post será dividido em 2 partes, para que assim possamos oferecer a você um conteúdo mais equilibrado e mais informativo.
Até o próximo post!
“O roteiro do filme nasceu, quando o filme já havia se desenvolvido em uma nova arte independente e já não era possível improvisar seus novos efeitos visuais sutis na frente da câmera; estes tinham que ser planejados cuidadosamente com antecedência”
(Béla Balázs, poeta, escritor, crítico e teórico do cinema)